Até pouco tempo atrás, encarar um gerente de banco para
tratar de dívidas era coisa para herói ou destemido. Pois uma pesquisa feita
pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL) sobre o perfil dos bons e maus pagadores do Brasil
concluiu que o brasileiro aprendeu a negociar condições melhores para o
pagamento de dívidas com os bancos.
Segunda a pesquisa, que será divulgada nesta terça-feira
(27) e foi antecipada ao blog, 8 em cada 10 inadimplentes conseguem quitar as
dívidas renegociando seu valor – 84% dos entrevistados. O resultado aumenta
quando os devedores pertencem às classes C, D e E, onde 86% deles conseguem
chegar a uma solução com os bancos.
Mesmo negociando e acontecendo o acordo, o processo é
considerado bem “difícil” pelos consumidores. Para quem deixa de pagar a conta
para depois buscar uma solução, a negociação é mais complicada. Para quem
assume antes de o caldo entornar que não vai dar conta do pagamento, a conversa
com o banco melhora.
Esse quadro evidencia uma mudança de comportamento dos
bancos na relação que têm com seus clientes. Depois do boom de crédito
registrado no país entre 2010 e 2012, a população com mais acesso aos serviços
financeiros cresceu e foi preciso uma adaptação. É claro que, se a
inadimplência está alta, as instituições farão de tudo para recuperar o
dinheiro. Mas tem um estímulo que ajuda muito: a concorrência.
Foi em abril do ano passado que entrou em vigor a chamada
portabilidade das dívidas, ou seja, o direito de o cliente levar sua dívida de
um banco para outro se ele encontrar juros e condições de pagamentos melhores.
Na maioria das vezes, o consumidor consegue baixar os juros (mesmo que os do
Brasil ainda sejam altos), trocando de modalidade de operação, e melhorar o
prazo para o pagamento total do débito.
“Certamente a concorrência entre os bancos melhorou as
condições para a renegociação das dívidas. Essa é uma mudança importante do
comportamento do consumidor brasileiro”, destaca o economista do SPC, Flávio
Borges.
A pesquisa do SPC e da CNDL ouviu 1.238 pessoas de todas as
27 capitais brasileiras entre os dias 24 de julho e 1º de agosto. O “desafio”
do trabalho feito pelas instituições foi “investigar”o comportamento dos gastos
e da vida financeira dos adimplentes e inadimplentes do país.
Bons e maus pagadores
O brasileiro é um bom pagador. O que sempre foi dito em
prosa e samba é comprovado pelas pesquisas. Mais de 80% das pessoas conseguem
pagar seus compromissos antes do prazo de 90 dias de atraso – que “suja” o nome
na praça. Ao traçar o perfil daqueles com as contas em dia ou em atraso, o
trabalho do SPC revelou que: “pertencer à classe C, ser autônomo, ter gastos
fixos com aluguel e possuir baixa escolaridade são algumas das características
dos consumidores inadimplentes”. Segundo a pesquisa, a classe C responde por
quase a metade da parcela de devedores (47%). Esse comportamento se justifica
principalmente depois que esse grande conjunto de brasileiros teve acesso a
crédito mais fácil e mais barato, muitos estímulos ao consumo, principalmente
do ano passado para cá.
Nos extremos, ou seja, nas classes A e D, é maior a parcela
de pessoas que mantêm as contas em dia. Ser funcionário público e estar
empregado há mais de 5 anos responde pelo perfil da maioria dos adimplentes.
Até porque, nesses dois extremos, mais ainda na classe D, o pagamento à vista é
uma opção muito escolhida pelo consumidor.
A pesquisa perguntou aos entrevistados: essa dívida poderia
ter sido evitada?
Quase metade dos entrevistados disse que sim (46%). Para 66%
dos inadimplentes, a frase “deveria ter controlado os impulsos e ter resistido
mais”, foi a justificativa mais usada. Um terço dos participantes da pesquisa
assumiu que se tivesse algum planejamento financeiro, controlando o orçamento,
poderia ter escapado da dívida.
“A pesquisa mostra que as razões para inadimplência não são
inesperadas e sim pela falta de organização pessoal, ou por impulso. Esse
comportamento revela o quanto é importante a educação financeira. Principalmente
para a classe C, que ainda está consolidando o hábito de lidar com tantas
parcelas e crédito mais acessível”, disse ao G1 o economista Flávio Borges.
Sem sono
Para 64% dos inadimplentes, estar devendo não lhes tira o
sono. Preocupa, mas não desespera. Essa tranquilidade não acomete os bons
pagadores. Para 56% deles, entrar em débito lhe traria muita preocupação e
pesadelos.
Quem está dormindo muito bem são os dirigentes dos bancos
nacionais. Uma pesquisa feita pela Economatica aponta os bancos brasileiros
como os mais rentáveis da América Latina e EUA. Banco do Brasil, Bradesco e
Itaú ocupam as três primeiras posições.
PS: Para quem quiser ver a pesquisa completa do SPC e CNDL,
pode acessar o site spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas a partir desta terça-feira
(27).
Fonte: G1( adaptado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário